Skip to main content

A endometriose é popularmente conhecida como a “doença da mulher moderna”, afinal, hoje, elas estão optando por ter menos filhos e postergar cada vez mais a maternidade. Consequentemente, tendem a ficar mais tempo expostas ao estrogênio, o hormônio que estimula a atividade do tecido endometrial. Segundo levantamento da Anvisa, a endometriose afeta cerca de 10% das mulheres brasileiras. Esta doença crônica, de diagnóstico demorado, ainda provoca muitas perguntas das pacientes. Fizemos um compilados das dúvidas mais frequentes.

1. O que é endometriose?

A endometriose é uma doença inflamatória crônica caracterizada pela presença e crescimento do endométrio (tecido que reveste o interior do útero) e/ou estroma (tecido de sustentação de um órgão) para fora da cavidade uterina. Durante a menstruação, o endométrio é renovado por meio da descamação, mas, em alguns casos, este tecido pode atingir as cavidades pélvica e abdominal.

2. O que causa a endometriose?

De acordo com a literatura médica, não existe uma causa conhecida para a doença, mas fatores genéticos, hormonais imunológicos ou ambientais podem determinar uma maior suscetibilidade para o seu desenvolvimento.

3. Quais os principais sintomas da endometriose?

As pacientes com endometriose podem apresentar dismenorreia severa (dores pélvicas ou cólicas muito fortes, a ponto de as impedirem de realizar atividades rotineiras); inchaço abdominal; dispareunia profunda, que são dores durante as relações sexuais; dor ao urinar e evacuar, principalmente durante o período menstrual e fadiga. A doença também pode causar infertilidade, além de estar associada à depressão e ansiedade.

4. Existem pacientes assintomáticas?

Sim. O quadro clínico das pacientes com endometriose é bastante variável. Grande parte apresenta sintomas, mas uma menor parcela pode ser assintomática ou referir apenas a infertilidade, sem que ocorra os sintomas dolorosos típicos.

5. Como a endometriose é diagnosticada?

O diagnóstico da endometriose pode ser realizado clinicamente, baseando-se na presença dos sintomas típicos da doença e também no exame físico ginecológico. Como propedêutica complementar os principais exames indicados para o diagnóstico da doença são a ultrassonografia com preparo intestinal e ressonância magnética de pelve realizados por profissionais experientes no diagnóstico da doença. A confirmação por biópsia é realizada por laparoscopia quando a cirurgia para o tratamento da doença está indicada. Hoje não recomendamos a realização da laparoscopia visando apenas o diagnóstico da endometriose.

6. Existe um exame mais eficaz para diagnosticar a doença?

Quanto aos exames de imagem utilizados no diagnóstico da endometriose, não existe diferença significativa entre a sensibilidade e especificidade da ultrassonografia com preparo intestinal e da ressonância magnética de pelve quando realizados por profissionais experientes. A ultrassonografia transvaginal simples, sem preparo intestinal, não diagnostica focos de endometriose profunda, mas pode visualizar a endometriose ovariana (endometriomas).

 7. Quais os tipos de endometriose?

Hoje classificamos a endometriose conforme a localização e grau de comprometimento dos tecidos pelas lesões. Podendo ser classificada como:

– Endometriose Superficial: Compromete o tecido com menos de 5mm de profundidade. Não pode ser visualizada em exames de imagem especializados. Poderá ser visualizada apenas durante a laparoscopia.

– Endometriose Profunda: Acometimento do tecido com mais de 5mm de profundidade. Pode ser identificada no exame físico ginecológico e exames de imagem especializados.

– Endometriose Ovariana: Endometriomas. Podem ser identificados por meio de ultrassonografias transvaginais simples e exames de imagem especializados.

Existem também outras classificações considerando a extensão do comprometimento da doença a órgãos pélvicos e órgãos fora da pelve.

 8. O que é endometriose profunda?

Quando os focos de tecido do endométrio se aprofundam por mais de 5mm da superfície peritoneal, a doença é classificada como “endometriose profunda”. Nesses casos, é comum que as lesões se expandam para órgãos não genitais, como intestino e bexiga, causando grande impacto na qualidade de vida das pacientes.  Os casos mais comuns de endometriose profunda envolvem o intestino (30% dos casos diagnosticados).

9. A endometriose profunda é grave?

A endometriose é uma doença benigna, porém pode ser potencialmente grave a depender da sintomatologia associada e do grau de acometimento dos tecidos e órgãos pela doença. Portanto não podemos dizer que toda endometriose profunda é grave.

10. Endometriose tem cura?

A endometriose, seja em sua forma leve ou profunda, não tem cura. Mas com acompanhamento médico e tratamento adequados, é possível aliviar os sintomas, preservar o futuro reprodutivo e garantir melhor qualidade de vida às pacientes.

11.  Uma paciente pode desenvolver a doença muitos anos depois do primeiro ciclo menstrual?

De acordo com estudos, a média de idade das mulheres diagnosticadas com a doença é de 27 anos, mas a doença também ocorre em adolescentes já nos primeiros ciclos.

 12. Quais os principais tipos de tratamento?

A indicação do tratamento mais adequado vai depender de diversos fatores, que incluem idade da mulher, gravidade e localização das lesões, intensidade dos sintomas, desejo reprodutivo, entre outras questões. Em casos leves e moderados, os médicos poderão optar pela terapia medicamentosa com progestágenos, contraceptivos orais combinados, analgésicos, anti-inflamatórios entre outros. Em situações mais graves, pode haver necessidade de cirurgia. Na maioria dos casos, opta-se por uma intervenção mais conservadora para a retirada de focos de tecido endometrial ectópicos

13. Após a cirurgia, a mulher está livre permanentemente das lesões?

Os objetivos principais da cirurgia em pacientes com endometriose são retirar todos os focos visíveis da doença e restabelecer a anatomia normal da pelve. Como se trata de uma doença crônica, existe risco de recorrência.

 14. Endometriose engorda?

Algumas pacientes podem apresentar inchaço abdominal, mas a doença em si não engorda. O ganho de peso pode ser um efeito colateral possível a depender do tratamento hormonal.

15. Qual a relação entre endometriose e perda de cabelo?

A perda de cabelo também pode estar associada ao efeito colateral do tratamento hormonal utilizado no tratamento dos sintomas relacionados à endometriose, não à doença em si.

16. Quais os principais efeitos colaterais do tratamento contra a endometriose?

As mulheres submetidas à terapia medicamentosa com progestágenos podem apresentar como efeitos colaterais sangramento uterino irregular, acne, aumento de pêlos, edema,  ganho de peso e redução da libido. Mulheres que fazem uso de análogos do hormônio liberador das gonadotrofinas (GnRH) podem ter ondas de calor e ressecamento vaginal. Já os efeitos colaterais de grande parte dos anticoncepcionais orais combinados são retenção de líquidos, diminuição na libido, enxaquecas, alterações de humor e trombose.

 17. Endometriose é sinônimo de infertilidade?

Apesar de 40% das mulheres portadoras da doença apresentarem alguma dificuldade para engravidar, a endometriose não deve ser encarada como sinônimo de infertilidade. Para as pacientes inférteis devido a endometriose existe as possibilidades do tratamento clínico e cirúrgico associado às alternativas de técnica de reprodução assistida para uma possível gravidez.

 18. Mulheres portadoras de endometriose que conseguem engravidar podem ter gestações de risco?

Podem.  A condição do endométrio impacta no desenvolvimento placentário, aumentando as chances de parto prematuro e a placenta prévia.

 19. A dieta pode influenciar nos sintomas e no tratamento da doença?

Pode. A nutrição torna-se uma importante aliada no controle dos sintomas, tratamento e prognóstico da endometriose a partir do momento em que a paciente passa a consumir uma dieta anti-inflamatória, rica em gorduras de boa qualidade (óleo de peixe e ômega-3); frutas, principalmente as cítricas; vitaminas C e E, que são antioxidantes, e vitamina D, importante nos processos anti-inflamatórios. Esses grupos alimentares atuam na redução da inflamação e no agravamento do quadro. Carnes vermelhas, embutidos e alimentos industrializados ultraprocessados – ricos em gorduras trans e saturadas – devem ser evitados, pois acarretam estresse oxidativo e aumento de hormônios como testosterona e estradiol, influenciando no agravamento da inflamação e da dor.

20. Mulheres com endometriose têm mais risco de desenvolver câncer?

A endometriose é uma doença benigna. Alguns trabalhos mostraram um aumento irrisório da incidência de câncer de ovário em mulheres com endometrioma (cisto de ovário) principalmente após a menopausa.

 

20 perguntas e respostas sobre endometriose
Referências:
FROTA, L. de A.; FRANCO, L. J.; ALMEIDA, S. G. de. Nutrition and your implications for endometriosis. In: Research, Society and Development.  Disponível em: <https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/28017>. Acesso em: 22 jul. 2022.
LIU, J. H. Endometriose. MD Manuals. Disponível em: < https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/ginecologia-e-obstetr%C3%ADcia/endometriose/endometriose>. Acesso em 27 jul. 2022.
NACUL, A.P.; SPRITZER, P.M. Aspectos atuais do diagnóstico e tratamento da endometriose. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 32 (6).  Jun 2010. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0100-72032010000600008>.  Acesso em 27 jul. 2022.
NAVARRO, P.A. A.S; BARCELOS, I. D.S; ROSA E SILVA, JC. Tratamento da endometriose. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 28 (10). Out 2006. Disponível em: < https://doi.org/10.1590/S0100-72032006001000008>. Acesso em 27 jul. 2022.
TERRA, I. B. N et al. Infertilidade na endometriose: etiologia e terapêutica. HU Revista, Juiz de Fora, v. 43, n. 2, p. 173-178, abr./jun. 2017.    Disponível em: < https://periodicos.ufjf.br/index.php/hurevista/article/view/2677>. Acesso em 27 jul. 2022.