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A endometriose é uma doença inflamatória crônica caracterizada pela presença extrauterina de glândulas endometriais, que podem atingir diversas partes do corpo como trompas, bexiga e intestino, impactando a qualidade de vida das mulheres portadoras dessa patologia. Você sabia que a nutrição pode se tornar uma das principais aliadas no controle dos sintomas, tratamento e prognóstico? Entenda mais sobre a dieta anti-inflamatória e os seus benefícios para a saúde.

Qual a relação entre nutrição e doenças inflamatórias?

A inflamação pode ser compreendida como o conjunto de alterações bioquímicas, fisiológicas e imunológicas em resposta a estímulos agressivos ao organismo. Tanto na resposta de fase aguda quanto na crônica, mediadores inflamatórios ativam local ou sistemicamente outras células envolvidas com o processo inflamatório. São variados os estímulos envolvidos com o início e a progressão da resposta inflamatória, como febre, hipotensão, leucocitose, além de alterações no metabolismo, aumento dos níveis de triglicérides e da secreção do colesterol VLDL.

De acordo com a literatura médica, o mecanismo pelo qual mediadores pró-inflamatórios levam à manifestação de doenças pode impactar na diminuição da atividade insulínica, mobilização de gorduras, disfunção endotelial e estresse oxidativo (quando a geração de compostos antioxidantes não é suficiente para compensar os efeitos nocivos dos radicais livres).

Diante deste cenário, alguns componentes e grupos alimentares podem ser classificados como pró- inflamatórios (produtos de glicação avançada, ácidos graxos saturados, ácidos graxos trans, ômega-6 e carboidratos) ou anti-inflamatórios (grãos integrais, fibras, frutas e vegetais, soja, castanhas e nozes, peixes).

Impacto da alimentação em casos de endometriose

A qualidade alimentar exerce influência no desenvolvimento e prognóstico da endometriose. Alguns estudos têm mostrado que uma alimentação baseada em compostos antioxidantes, como ômega-3 e vitaminas C, D e E, impacta na diminuição da dor pélvica e na redução dos marcadores inflamatórios. É o que chamamos de dieta anti-inflamatória.

O estudo norte-americano “Health Study II” buscou determinar a relação da ingestão de diversos grupos alimentares com o desenvolvimento da patologia. Entre 1991 e 2013, foram aplicados Questionários de Frequência Alimentar (QFA) a cada 4 anos, com o intuito de analisar o perfil nutricional das pacientes. Ao final do estudo, registrou-se o total de 3.800 casos de endometriose. A partir dos QFA coletados, foi possível observar que mulheres que consumiram uma ou duas porções de carne vermelha ao dia tiveram 56% maior risco de desenvolver a doença ou agravar os sintomas, em comparação às que consumiram uma porção ou menos por semana.

Quem são os vilões na dieta de acordo com o estudo?

– Carnes vermelhas e alimentos embutidos: quando consumidos em excesso, acarretam o aumento de hormônios como testosterona e estradiol, influenciando no e agravo da inflamação e da dor.

– Excesso de consumo de gorduras saturadas e trans presentes nos alimentos ultraprocessados: eleva o estresse oxidativo e, consequentemente, a inflamação no organismo.

– Consumo diário de crucíferos como couve-flor, brócolis e couve de Bruxelas: esses vegetais podem potencializar os sintomas gastrointestinais, pois o elevado grau de fermentação deles dificulta a digestão e a absorção desses alimentos pelo organismo.

Nutrição como aliada: o que o estudo diz?

– Inclusão na dieta de tipos de gordura de melhor qualidade: óleo de peixe e ácidos graxos poli-insaturados presentes no ômega-3 podem contribuir para a redução da intensidade e duração da dispareunia (dor genital), além de auxiliar na progressão das lesões endometriais.

– Consumo de pequenas porções de lácteos com baixo teor de gordura: leite desnatado, iogurte e queijo cottage podem ajudar a reduzir riscos de endometriose, por apresentarem a capacidade de diminuir a quantidade de marcadores de estresse oxidativo e respostas inflamatórias.

– Três ou mais porções de frutas por dia, principalmente as cítricas: o consumo dessa quantidade está associado ao menor risco de desenvolvimento da endometriose se comparado ao consumo de menos de duas porções diárias.

– Vitamina C:  exerce papel antioxidante, além de auxiliar na cicatrização, prevenção e recuperação das lesões da endometriose.

– Vitamina D é:  nutriente muito importante nos processos anti-inflamatórios do corpo. Segundo a pesquisa, pacientes que apresentavam níveis da concentração mais elevados de vitamina D tiveram um risco 24% menor de desenvolver endometriose.

– Vitaminas antioxidantes, como C e E:  possuem grande influência na fertilidade, pois atuam na redução do estresse oxidativo nos óvulos e nos espermatozoides.

Avaliação nutricional como aliada

Como vimos, o estado nutricional impacta diretamente na saúde e qualidade de vida das mulheres com endometriose. Trata-se de uma abordagem fundamental para analisar e concluir diagnóstico sobre a composição corporal do indivíduo. Um acompanhamento multidisciplinar, com o olhar clínico de um profissional de nutrição para prescrever à paciente uma dieta anti-inflamatória, é essencial para o tratamento dos sintomas da endometriose, diminuindo a inflamação e evitando agravamentos do quadro.

 

Referências
FROTA, L. de A.; FRANCO, L. J.; ALMEIDA, S. G. de. Nutrition and your implications for endometriosis. In: Research, Society and Development.  Disponível em: <https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/28017>. Acesso em: 22 jul. 2022.
GERALDO, J.M.; ALFENAS; R. de. C.G. Papel da dieta na prevenção e no controle da inflamação crônica: evidências atuais. Revisões.  Arq Bras Endocrinol Metab 52 (6). Ago 2008.  Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0004-27302008000600006>. Acesso em: 22 jul. 2022.
RIBOLDI, B.P. Aspectos inflamatórios da dieta e sua associação com diabetes, marcadores inflamatórios e metabólicos: Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil); 2017; Tese (Doutorado em Programa de Pós-graduação em Epidemiologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/handle/10183/179699>. Acesso em: 22 jul. 2022.