É verdade que esse nome assusta um pouco, mas quando falamos em endometriose profunda estamos falando de diversos graus diferentes da doença.
Na definição médica a doença profunda é caracterizada quando os implantes de endometriose se aprofundam por mais de 5mm da superfície peritoneal.
Este dado, óbvio, só é possível identificar após a remoção dos implantes por meio de cirurgia. Então, por que o laudo do exame de imagem vem escrito endometriose profunda?
É hábito também chamar de doença profunda toda vez que o radiologista identifica um nódulo de endometriose ou o acometimento de algum ligamento.
Por isso temos vários tipos de endometriose profunda. Sem dúvida, a forma mais avançada é a que acomete órgãos não genitais.
O mais frequentemente envolvido é o intestino (30%). Quando a doença progride as lesões que estão na parte posterior do útero acabam grudando no reto ou sigmóide (parte final do intestino) e, como a parede destes órgãos é mais frágil do que a parede do útero, as lesões acabam por invadir a parede intestinal.
Nesta forma da doença, sintomas intestinais importantes podem estar presentes, como sangramento ou dor à evacuação, sensação de esvaziamento intestinal incompleto dentre outros.
Para o correto diagnóstico desta forma da doença os exames de imagem são fundamentais!
Dentre os disponíveis salientamos a ressonância magnética e a ultrassonografia vaginal especializada com preparo intestinal.
Sempre é bom, ao pensarmos em cirurgia termos dois tipos diferentes de exames de imagem, eles acabam se complementando e ajudando na programação cirúrgica.
O tratamento desta forma da doença é, na maioria das vezes, cirúrgico. O tratamento medicamentoso é pouco eficaz na doença intestinal.
A cirurgia é complexa, dependendo do tamanho da lesão e do grau de infiltração da doença na parede intestinal, a ressecção intestinal com posterior anastomose ou a remoção apenas do nódulo são indicadas. Esta cirurgia deve ser realizada por equipe multidisciplinar, obrigatoriamente um cirurgião gastrintestinal deve estar presente.
A pergunta mais frequente que ouvimos no consultório é “ Dr, mas eu vou precisar usar bolsinha após a cirurgia?” Esta bolsinha, chamada de bolsa de colostomia é utilizada raramente, principalmente quando queremos desviar o trânsito intestinal. Em quais situações isso é necessário?
Toda vez que retiramos doença intestinal, independente da forma, forma-se uma área de cicatrização, que é mais frágil que a parede intestinal normal. Em algumas situações esta área se rompe a luz do intestino se abre. Nesta situação, na maioria das vezes as pacientes tem que ser reoperadas, e para impedir que essa parede se abra o transito intestinal é desviado por meio de uma incisão no abdômen que se exterioriza em uma bolsinha.
Esta complicação é rara, nas mãos de cirurgiões experientes não chega a 1%. Entretanto, toda paciente que vai ser operada de doença intestinal deve ser alertada sobre esta possibilidade.
A internação hospitalar bem como a recuperação é um pouco mais demorada do que na laparoscopia para tratamento da endometriose não intestinal.
Apesar da complexidade do procedimento, por vezes é a única forma de restabelecermos a qualidade de vida da mulher!