A endometriose é uma doença inflamatória crônica que causa muitos desconfortos físicos nas mulheres, principalmente, dores intensas na região pélvica e abdômen. Estima-se que 57% das pacientes com endometriose convivem com dores crônicas que costumam interferir em diversas áreas da vida da mulher: nas relações sociais e profissionais; na qualidade de vida da paciente, inclusive no bem-estar sexual; na fertilidade etc. Todos esses pontos podem despertar gatilhos emocionais e impactar a saúde mental delas. Neste artigo, iremos entender melhor os principais pontos de gatilho, a relação entre a endometriose e saúde mental e como minimizar os impactos físicos e emocionais da doença e de seus sintomas.
Qual a relação entre endometriose e saúde mental?
A ansiedade, o estresse e os outros distúrbios emocionais interferem negativamente nos quadros de qualquer dor crônica, como é o caso da endometriose. Numa perspectiva física, um corpo estressado e ansioso torna-se incapaz de regular adequadamente os processos inflamatórios do organismo. Já na perspectiva emocional, a ansiedade e o estresse também alteram negativamente a percepção que as mulheres têm da dor e também de si mesmas. Os dois cenários estão diretamente ligados à ocorrência e manutenção de quadro de depressão e outras doenças emocionais.
Do momento em que vivencia os primeiros sintomas, da busca e descoberta do diagnóstico até tratamento e prognósticos, a mulher com endometriose vive um mix de sentimentos: medo, irritação, insegurança, raiva, desespero… Esses sentimentos podem desencadear distúrbios emocionais graves. Por isso, é importante que a endometriose e as mulheres portadores desta doença sejam compreendidas sobre um novo olhar mais humanizado e multidisciplinar.
Sintomas físicos da endometriose
- Dor abdominal crônica que pode ser confundida com cólicas menstruais.
- Dor ao urinar.
- Incômodo durante as relações sexuais, que pode se estender por horas e dias.
- Dor pélvica frequentemente.
- Inchaço na barriga.
- Cansaço excessivo.
Sintomas emocionais e sentimentos despertados pela endometriose
- Ansiedade.
- Estresse.
- Nervosismo.
- Medo.
- Raiva.
- Frustração;
- Solidão.
- Sentimento de incapacidade.
- Depressão.
Principais pontos de gatilho
Ao longo da busca pelo diagnóstico e tratamento dos sintomas da endometriose, a mulher acaba lidando com sentimentos que, muitas vezes, são despertados por gatilhos emocionais após situações mais angustiantes ou traumáticas, como uma resposta demorada ou um sentimento de desamparo pelas pessoas mais próximas. Veja alguns pontos de gatilhos mais comuns.
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Estresse com os sintomas da endometriose
Para muitas pacientes de endometriose, há perdas significativas no círculo social em decorrência das limitações impostas pelos sintomas da endometriose, principalmente, pela dor. Por exemplo: muitas mulheres já deixaram de sair de casa para se divertir porque estavam sentindo uma cólica muito forte. Ou, ainda, não renderam muito num dia de trabalho pelo mesmo motivo, trazendo para si um sentimento de medo de ser desprestigiada na empresa ou até mesmo perder o emprego. Essas perdas, a curto e médio prazo, por si só geradoras de insegurança e ansiedade, e em longo prazo podem ser agravadas, resultando em uma depressão. Mas calma: há tratamento para diminuir os impactos físicos e emocionais dos sintomas.
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Ansiedade: demora do diagnóstico
Apesar de ser uma doença relativamente comum, que acomete 1 a cada 10 mulheres, a endometriose leva, em média, de 7 a 9 anos para ser diagnosticada. Isso porque grande parte das mulheres são assintomáticas ou têm as dores confundidas com as da cólica comum. O diagnóstico da endometriose, normalmente, é feito em três etapas: exames clínicos, físicos e de imagem. Muitas pacientes descobrem o diagnóstico muito tardiamente, quando se encontram com alguma dificuldade para engravidar ou quando as dores estão muito fortes. Conviver tanto tempo com esses desconfortos físicos e/ou ansiedade para engravidar sem um diagnóstico pode gerar pontos de gatilho como ansiedade e depressão.
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A descoberta da endometriose e ansiedade com o tratamento
Conhecer o diagnóstico é um momento que pode causar um turbilhão de emoções na mulher. O nervosismo pela imersão num mundo novo cheio de tipos de tratamentos – mais ou menos invasivos.; a ansiedade aguardando os primeiros resultados; a frustração de acompanhar avanços mais lentos do que se esperava; o medo da doença ter deixado impactos importantes, como a infertilidade, no caso de a mulher querer ser mãe.
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Medo da infertilidade e o nervosismo com a dificuldade para engravidar
A endometriose pode dificultar ou impossibilitar as chances de gravidez. Para as mulheres que têm a maternidade como plano, essa realidade pode trazer impactos emocionais que as desestabilizam social, pessoal e conjugalmente. Mesmo uma paciente que não sonha em ser mãe pode ser impactada emocionalmente pela infertilidade, uma vez que ela está inserida numa sociedade que, culturalmente, cobra da mulher o papel da maternidade. Esses sentimentos podem desencadear emoções diversas e patologias mais graves, como a depressão e crises de ansiedade.
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Sentimento de solidão com a falta de apoio
A infertilidade e a dificuldade para engravidar podem trazer alguns desgastes para o casamento. Um outro ponto de atenção da endometriose para o relacionamento é a dor nas relações sexuais, sintoma que faz com que a mulher diminua a frequência da atividade sexual, impactando negativamente a vida a dois. Muitas mulheres chegaram a relatar um sentimento de solidão, pois os parceiros ou parceiras ficaram mais distantes física e emocionalmente durante um período difícil do tratamento de endometriose. Muitos casamentos até terminam por causa da doença, causando um sentimento de abandono e desencadeando doenças emocionais graves.
Como atenuar os sintomas físicos e emocionais?
A endometriose tem caráter crônico, portanto, não tem cura. Mas existe tratamento para controle dos sintomas físicos, sobretudo a dor, a partir de uma abordagem multidisciplinar, tratamento clínico e terapêutico que envolve, inclusive, profissionais dedicados à saúde mental.
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Primeiramente, faça o tratamento para a endometriose
É possível ter uma vida normal e com qualidade mesmo com a endometriose. Para isso, é preciso manter a doença controlada por meio de acompanhamento médico periódico. O profissional irá indicar, caso a caso, o melhor tratamento clínico paliativo por meio de medicamentos, hormônios ou, em alguns casos, cirurgia. Não desista do tratamento da endometriose e seus sintomas. Converse com o médico sobre a sua expectativa, angústias e ansiedade ao longo da jornada.
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Conte com uma equipe multidisciplinar…
É importante contar com o apoio de outros profissionais da saúde. Eles irão contribuir muito para o tratamento. A alimentação, por exemplo, exerce muita influência no desenvolvimento e prognóstico da endometriose. O acompanhamento de um nutricionista e a adoção de uma dieta anti-inflamatória será muito importante para a diminuição das dores e dos marcadores inflamatórios. A adoção de atividades físicas regulamentares impacta no bem-estar e auxilia na amenização das dores, portanto, conte também com os educadores físicos como aliados nesse processo. A acupuntura é uma especialidade médica que também tem contribuído bastante no controle das dores da endometriose.
… e claro, com profissionais da saúde mental
Corpo e mente precisam estar em equilíbrio. O tratamento dos sintomas físicos e o acompanhamento emocional devem andar juntos, afinal, são codependentes. A sua mente precisa estar bem para que o tratamento da endometriose traga bons resultados. Procure suporte psicológico para dialogar sobre suas dores emocionais. Nessa imersão, é possível que terapeuta e ginecologista desconfiem de alguma patologia mental e indiquem um psiquiatra para aprimorar o diagnóstico e prescrever medicações. Acompanhamento psicológico e psiquiátrico não é mais tabu, afinal, saúde mental deixou de ser um assunto marginalizado e passou a ser uma das prioridades da vida moderna.
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Converse sobre os seus sentimentos
Seus sentimentos não devem ficar restritos a você e ao consultório de médicos e psicólogos. Familiares, amigos e parceiros também precisam estar envolvidos no processo. A endometriose ainda é uma doença desconhecida para grande parte das pessoas. É importante que a rede de apoio esteja ciente dos impactos físicos e emocionais causados. Fazer com que entendam que não é “só uma cólica” ou “frescura” para fortalecer a sua rede de apoio e as redes de outras mulheres.