A endometriose é uma doença inflamatória crônica caracterizada pela presença de tecido endometrial fora do útero. Em alguns casos, esses tecidos podem penetrar em até mais do que 5 mm no peritônio (membrana que recobre as paredes do abdômen e a superfície dos órgãos digestórios), caracterizando a endometriose pélvica profunda, a forma mais grave da doença.
O diagnóstico da endometriose é clínico e o ultrassom com preparo intestinal auxilia no diagnóstico radiológico, permitindo o mapeamento da doença. Por ser um exame mais acessível nas redes pública e privadas, de menor custo, além de ser menos invasivo e possibilitar um planejamento pré-operatório nas situações em que a intervenção cirúrgica se faz necessária, se torna um aliado importante no diagnóstico e controle da endometriose.
A USTV, por protocolo, tem sido sugerida como o primeiro exame de imagem indicado em casos de suspeita de endometriose, principalmente pela sua precisão na diferenciação entre endometriomas (cistos da endometriose) e cistos ovarianos.
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Qual é o objetivo da ultrassonografia com preparo intestinal?
Este exame é um importante método de rastreamento e diagnóstico de excelência da endometriose profunda e suas lesões em diferentes localidades, incluindo ovário, intestino, região retro cervical, ligamento redondo, bexiga e miométrio.
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É preciso preparo prévio?
Sim. Exige um preparo relativamente simples, que inclui uso de laxante via oral na véspera. Cerca de duas horas antes da realização do exame, é indicado a introdução de um frasco de fleet enema via retal e o consumo oral de 40 a 70 gotas de antigases. Essas orientações podem variar de acordo com a indicação do médico que prescreveu o exame ou com os protocolos do laboratório. Alguns locais podem exigir a ingestão prévia de água para melhor visualização da bexiga.
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Como é feito o exame?
O ultrassom transvaginal com preparo intestinal é um método baseado em protocolos definidos pelo Consenso Internacional de Análise da Endometriose Profunda. Na primeira etapa do exame, são avaliados útero, bexiga e rins. Na segunda etapa, com o transdutor via vaginal, são verificados a mobilidade do útero e os ovários. Em seguida, são procurados os marcadores de sensibilidade local e fixação dos ovários, além de se observar o deslizamento do reto anterior. Por fim, são pesquisados nódulos hipoecogênicos ou irregularidades nos compartimentos anterior e posterior.
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O que o exame pode detectar?
– Endometriomas: manifestação mais evidente da doença em uma USTV. A presença dessas lesões no ovário é um sinal de alerta para um olhar minucioso para outras localidades, uma vez que os endometriomas são marcadores de endometriose profunda grave.
– Endometriose intestinal: nódulos ou lesões irregulares detectadas na parede intestinal e que envolvem a musculatura própria do reto e/ou cólon sigmoide podem sinalizar uma endometriose profunda com comprometimento intestinal.
– Endometriose na região retrocervical ou recesso retouterino: é uma variação rara e que merece atenção por apresentar sintomas inespecíficos, que dificultam o diagnóstico e que podem evoluir silenciosamente para uma insuficiência renal.
– Endometrioma na bexiga: a ultrassonografia é um dos métodos mais eficazes para visualizar nódulos na parede da bexiga em pacientes com sintomas urinários.
– Adenomiose: caracteriza-se pela presença de glândulas endometriais e estroma ao nível da camada muscular uterina, induzindo hipertrofia e hiperplasia do miométrio envolvente, resultando em aumento do volume uterino.
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Referências:
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